Sobre a Importância da Atuação do Seminário Arquidiocesano de São José no Contexto Atual 2018-05-12T21:01:00+00:00

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Sobre a Importância da Atuação do Seminário Arquidiocesano de São José no Contexto Atual

O Seminário Arquidiocesano de São José forma sacerdotes desde 1739 não somente para a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como também para as diversas dioceses do Brasil. Com uma história quase tricentenária, inserida no contexto de nosso país, não deixou de enfrentar as múltiplas situações que marcaram cada época. Não obstante, também hoje nosso Seminário encontra seus próprios desafios: um tempo fortemente marcado pela relativização dos valores, pelo acirramento das questões políticas, que sempre ameaçam interferir na caminhada de fé da Igreja (como a imposição de um modo de pensar estranho à fé, atuando como raiz de divisão e polarização1), pelo afastamento progressivo dos caminhos do Evangelho por parte de parcelas da sociedade, que acaba por exigir uma tomada de posição cada vez mais contundente em questões essenciais para a vida humana e o seguimento de Cristo etc. A respeito da complexidade desta época e seus desafios, orientou o nosso Arcebispo Metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta,  em sua Carta Pastoral aos Seminaristas, n. 45: “Nestes tempos difíceis que vivemos, quando a nossa fé é ameaçada de muitas formas, é necessário que a vida no seminário nos fortaleça para sermos presença de Cristo junto ao nosso rebanho.”

É nesse contexto que o Seminário São José permanece como um sinal de que Deus está no meio de nós, que continua a chamar os jovens à entrega de si para Ele, que é o próprio Amor e único sentido de nossa existência, e que diz: “Segui-me, e farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19). São muitos os jovens que, a partir de uma experiência com Cristo que os chama, têm ingressado em nosso Seminário – e não é pouca nossa responsabilidade em salvaguardarmos o bem espiritual e a boa formação integral dos futuros presbíteros.

Promovemos atividades de formação humana, espiritual, pastoral e acadêmica seguindo as diretrizes do Magistério da Igreja, de modo especial, as que são apresentadas no Decreto Conciliar Optatam Totius, sobre a formação sacerdotal, na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, de São João Paulo II, nas Diretrizes para Formação dos Futuros Presbíteros da Igreja no Brasil – o documento 93 da CNBB – e reafirmadas através do recentíssimo documento O Dom da Vocação Presbiteral: Ratio Fundamentalis Institucionis Sacerdotalis, aprovado por decreto do Papa Francisco em 2016 e que estabelece novas diretrizes para os seminários.

Sendo fiéis àquilo que nos pede a Igreja, temos oferecido uma sólida formação humana e espiritual a cada vocacionado por meio de nossas atividades cotidianas, sejam de manutenção da casa formativa, sejam de caráter lúdico e esportivo, através de palestrantes e pregadores, e dos próprios formadores residentes, a fim de consolidar a identidade de cada um enquanto filho de Deus e da Igreja, e também de irmãos uns dos outros, como membros de um só corpo. É nesse espírito de unidade e filiação à Santa Mãe Igreja, cientes de que as espiritualidades particulares ou as agregações eclesiais são “um fator benéfico de crescimento e de fraternidade sacerdotal” (Pastores Dabo Vobis, n. 68), desde que não obstaculizem “o exercício do ministério e a vida espiritual que são próprios do sacerdote diocesano, o qual ‘permanece sempre o pastor de todos em conjunto’” (ibid.), possibilitamos que nossos seminaristas se reúnam em diversos grupos e movimentos de espiritualidade, que não só são aprovados pela autoridade da Igreja, mas que nesta vêm exercendo importantes papéis com o apoio dos Papas.

Sabemos que em última instância o processo formativo contará sempre com a abertura livre de cada seminarista, na medida em que cada um é “o protagonista da própria formação” (cf. Pastores Dabo Vobis, n. 68; Ratio Fundamentalis, n. 53; 127; 130). Todavia, não ignoramos o que disse o Senhor: “quem permanece em Mim, e Eu nele, produz muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Esse permanecer em Cristo, que ocorre, sobretudo pela vida de santidade, também exige meios próprios para ser alcançado, pois como nos ensina o Papa Francisco em sua recente Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre a chamada à santidade no mundo atual, “o nosso caminho para a santidade é também uma luta constante” (Gaudete et Exsultate, n. 162), sendo que, “para a luta, temos as armas poderosas que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a Reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária, o compromisso missionário. Se nos descuidarmos, facilmente nos seduzirão as falsas promessas do mal. Ora, como dizia o Santo Cura Brochero, ‘que importa que Lúcifer prometa libertar-vos e até vos atire para o meio de todos os seus bens, se são bens enganadores, se são bens envenenados?’” (ibid.).

Ainda, não podemos deixar de ressaltar a ênfase que tem sido constantemente dada acerca da centralidade da Eucaristia na vida da Igreja e, de modo especial, na formação sacerdotal. São João Paulo II, por exemplo, foi incansável em expressar o valor da Missa diária e da adoração eucarística (cf. Ecclesia de Eucharistia, n. 10; 25; 61; Pastores Dabo Vobis, n. 48). Também, ressaltamos a ênfase na oração do santo terço como meio para a santidade e modo sublime de meditação cristã (Cf. por ex. Rosarium Virginis Mariae, n. 39; Gaudete et Exsultate, n. 16).

Cientes dessa realidade, coletivamente promovemos todas essas práticas: a oração do santo terço, da Liturgia das Horas, a meditação da Palavra de Deus (Lectio Divina), a Santa Missa e a adoração eucarística diárias, para que, como futuros “homens da eucaristia”, os seminaristas possam desde já aprender a encontrar no Senhor tudo aquilo de que necessitam para amar e servir.

Já no serviço pastoral, os seminaristas semanalmente atuam em 76 das 267 paróquias da Arquidiocese do Rio, compreendendo praticamente todo o território da Arquidiocese, nas mais variadas realidades socioeconômicas e periferias existenciais, tais como: nas comunidades, nos hospitais públicos e privados, no DEGASE-RJ (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), colégios e cemitérios. Contudo, para que o futuro apostolado sacerdotal seja frutuoso e corresponda aos anseios do povo por aquela água viva que só Cristo pode dar, faz-se necessária a sólida formação nas demais dimensões, que depende também do empenho individual de cada formando.

Quanto ao âmbito acadêmico, repetimos as palavras da Ratio Fundamentalis: “os docentes e os seminaristas são chamados a aderir com plena fidelidade à Palavra de Deus, contida na Escritura, transmitida na Tradição e interpretada autenticamente pelo Magistério. Estes alcançam o sentido vivo da Tradição pelas obras dos Santos Padres e de outros Doutores que na Igreja são tidos em grande consideração” (Ratio Fundamentalis, n. 140). É digno de notar o fato de que nosso ensino de filosofia é um dos poucos que oferece uma formação nas diversas correntes do pensamento filosófico, “tendo em particular consideração a obra de São Tomás de Aquino” (Veritatis Gaudium, Art. 64. § 1), conforme determina a Constituição Apóstolica Veritatis Gaudium, promulgada pelo Papa Francisco em 2017 acerca do ensino na Igreja. Já nos estudos teológicos, não só seguimos o Art. 55 dessa mesma Constituição quanto às disciplinas oferecidas, bem como temos presente que dos “professores que ensinam matérias respeitantes à fé e aos costumes, é exigido que estejam conscientes de que este múnus deve ser exercido em plena comunhão com o Magistério autêntico da Igreja e, sobretudo, do Romano Pontífice” (Veritatis Gaudium, Art. 26. § 2) – o que se faz necessário enfatizar nesta época em que se busca promover valores contrários a esse Magistério e que atentam contra a dignidade da vida humana.

Cabe, portanto, ao Seminário assegurar um ensino claro e sólido, que ensine a doutrina católica em toda a sua riqueza e verdade (cf. Ratio Fundamentalis, n. 186-187), para que sejam formados sacerdotes que anunciem o Cristo com a alegria e a audácia (“parresia”) do Evangelho, como os apóstolos, que “saíram do Conselho, contentes por terem sido julgados dignos de sofrer essas afrontas pelo Nome de Jesus” (At 5,41). Afinal, como nos diz o Papa, “a santidade é parresia: é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. Para isso ser possível, o próprio Jesus vem ao nosso encontro, repetindo-nos com serenidade e firmeza: ‘não temais!’ (Mc 6, 50). ‘Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28, 20)” (Gaudete et Exsultate, n. 129).

Contamos com a colaboração, as orações e os sacrifícios de todo o povo fiel, para que possamos continuar nosso papel de formar sacerdotes conforme o Sagrado Coração de Jesus, no caminho da santidade; peçamos em oração contínua que nosso Seminário, bem como todos os demais seminários de nosso país, possam irradiar a santidade e a retidão da fé para a Igreja, por meio dos novos sacerdotes, para que ela seja sempre mais o fermento na massa, sal da terra e luz do mundo. In Caritate et Veritate, assim seja.

 

Côn. Leandro de Souza Câmara

Reitor do Seminário Arquidiocesano de São José

 

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1 Permanece útil o que disse o Papa Paulo VI ao se referir às comunidades eclesiais de base, pois é um alerta de utilidade geral e atual: “[…] que elas procurem o seu alimento na Palavra de Deus e não se deixem enredar pela polarização política ou pelas ideologias que estejam na moda, prestes para explorar o seu imenso potencial humano evitem a tentação sempre ameaçadora da contestação sistemática e do espírito hipercrítico, sob pretexto de autenticidade e de espírito de colaboração; permaneçam firmemente ligadas à Igreja local em que se inserem, e à Igreja universal, evitando assim o perigo, por demais real, de se isolarem em si mesmas, e depois de se crerem a única autêntica Igreja de Cristo e, por consequência, perigo de anatematizarem as outras comunidades eclesiais; mantenham uma comunhão sincera com os Pastores que o Senhor dá à sua Igreja, e também com o Magistério que o Espírito de Cristo lhes confiou; jamais se considerem como o destinatário único ou como o único agente da evangelização, ou por outra, como o único depositário do Evangelho; mas, conscientes de que a Igreja é muito mais vasta e diversificada, aceitem que esta Igreja se encarna de outras maneiras, que não só através delas; elas progridam cada dia na consciência do dever missionário e em zelo, aplicação e irradiação neste aspecto; elas se demonstrem em tudo universalistas e nunca sectárias” (Evangelii Nuntiandi, n. 58).